Duarte
Bragança e o Fascismo
Mário
Soares no seu “Portugal Amordaçado” pág.272
“Assim
o perigo de uma restauração da monarquia em Portugal
aparece hoje definitivamente afastado – não só porque
não há monárquicos, isto é monárquicos
capazes de se bater pela monarquia, como porque o pretendente
oficial, Duarte Nuno de Bragança, é um personagem
medíocre comprometido como regime, dos pés à cabeça,
que no fundo o subsidia, sem rasgo nem coragem para suscitar
um movimento restaurador entre os seus desalentados partidários”.
2005-10-06
http://www.correiodamanha.pt/index.asp
PIDE: contestado condomínio de luxo em edifício da tortura
Trânsito cortado
A
rua António Maria Cardoso (Lisboa) foi ontem cortada, às
15h00. Os manifestantes contestam a construção
de um condomínio de luxo nas antigas instalações
da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).
Na acção de protesto foi defendido para o local
a criação do museu da resistência à ditadura.
Para já, as casas não estão a ser vendidas. “As
manifestações não são benéficas, mas a crise
existente no sector é a principal razão para a venda do condomínio
ainda não ter ficado concluída”, disse ao CM um consultor
imobiliário, que pediu anonimato.
“Fascismo
nunca mais! Fascismo nunca mais!” Os gritos, ontem, vieram
de cerca de 60 manifestantes em frente às antigas instalações
da PIDE, que cortaram o trânsito. Às 15h00, três
agentes da PSP à paisana ordenaram a Maria João
Gerardo (vítima da PIDE) para terminar o discurso e aos
manifestantes para permitirem a circulação do trânsito.
Dez
minutos mais tarde, já os automóveis rodavam novamente
na rua António Maria Cardoso. Quase já só houve
tempo para que o capitão de Abril Durand Clemente gritasse
que “as pessoas têm direito à indignação”.
O
início do protesto ficou marcado pela acção
de cerca de dez jovens. Invadiram as ruínas do edifício
e colocaram na fachada uma faixa com os nomes de pessoas mortas
durante o fascismo, como o General Humberto Delgado, Catarina
Eufémia ou Soeiro Pereira Gomes.
Os manifestantes exigem respostas do Governo, dos candidatos à Câmara
de Lisboa e à Presidência da República sobre o futuro daquele
espaço. Defendem a criação de “um museu e um espaço
de investigação sobre a história do Século XX”,
disse João Almeida, um dos organizadores desta acção.
A iniciativa
partiu de um grupo de amigos que quis assim aproveitar o dia em que se celebrou
os 95 anos da Implantação da República para recordar os
48 anos de fascismo. “A ideia foi circulando por ‘e-mail’,
por telefone e pelos jornais e as pessoas aderiram para que a memória
dos dias negros não seja apagada”, acrescentou João Almeida.
Sublinhou ainda que o fascismo está bem vivo na memória das pessoas,
pelo que “no próximo sábado, pelas 15h00, será realizada
nova reunião para definir futuras acções de pressão
que visem a formação de um movimento cívico em prole de
um museu”.
Vítima
de tortura e detida pela PIDE entre Outubro de 1973 e Fevereiro
de 1974, também a procuradora--geral adjunta, Maria José Morgado,
defende a criação de um museu sobre a ditadura.
"SOFRIMENTO
NÃO PODE SER APAGADO"
A
acção de protesto ontem frente às antigas
instalações da PIDE reuniu na mesma luta vítimas,
jovens e antigos militares que realizaram o 25 de Abril. Entre
estes últimos estava o Capitão de Abril Durand
Clemente, que disse estar indignado com a solução
encontrada para o imóvel.
“Deveria
haver diálogo para que se mantivesse um pólo museológico
no edifício, em memória dos que sofreram. Ao apagarem
esta memória está-se a tentar apagar o sofrimento
das pessoas e este não pode ser apagado.”
Durand
Clemente acrescentou que “no futuro é importante
as pessoas saberem que o local foi a sede de uma polícia
tenebrosa”.
A
opção da Câmara de Lisboa de autorizar a
transformação do edifício do século
XIX num condomínio de luxo continua a ser contestada no
seio da autarquia. Em Junho último, a Assembleia Municipal
de Lisboa rejeitou, por maioria, uma proposta do Bloco de Esquerda
de criação de um Museu da Liberdade e Cidadania
na antiga sede da PIDE.
EMPREENDIMENTO
PÁRA HISTÓRIA
A
presença da PIDE no edifício onde ficará o
condomínio de luxo foi apagada da história do imóvel
na publicidade de promoção, realizada pelas empresas
de imobiliário Temple e GEF. Da História só se
sabe o que aconteceu até 1640. Na internet, em www.pacododuque.com,
o comprador fica a saber que irá habitar um espaço
que, no final do século XIV, pertencia a D. Nuno Álvares
Pereira. Pelo casamento da sua filha, Beatriz, com D. Afonso
(filho de D. João I), mais tarde duque de Bragança,
estas propriedades ficaram então na posse da Casa de Bragança.
Este paço e o de Vila Viçosa eram as mais importantes
moradas da família Bragança.
O
Paço do Duque é um dos palácios onde se
organiza a revolta de 1640, que devolveu a soberania a Portugal.
A última informação na ‘net’ é de
que foi neste local que se reuniram os conjurados que decidiram
que o dia da revolução seria o 1.º de Dezembro.
No século XIX foi erguido no local o imóvel de
que hoje restam as ruínas, então residência
do Duque de Ávila. A
empresa GEF viria a comprar a propriedade a D. Duarte de Bragança
para então construir o condomínio de 38 apartamentos
e dez lojas.
No imóvel permanece a placa que assinala a morte de três cidadãos
a 25 de Abril de 1974 pela PIDE.
João Saramago
(Clique
na figura para ampliar)
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